Saturday, October 09, 2004

Todo Poema É Uma Carta Suicida

Tenho pensado e repensado
A minha compulsão
Canto de sereia
Que me encanta
Só pela proximidade do abismo

Mas desta vez fui longe demais
E não é o eu lírico quem vos fala
Mas o eu mesmo
O eu que não sei bem no que me meti
Ou sei
Mas não acredito
Meu pensamento é mágico
Trágico como uma bala no ouvido
Eu sinto a tua presença
Espreitando em cada esquina

Onde a luz?
Pra mim não há repouso
Todo castigo pra louco é pouco
E meus poemas não iluminam nada
A vida é à vera
Não é poesia
Mas meus poemas sangram

A saída por favor
Que já não sei por onde vou
Atropelaram-me
Pegaram-me na armadilha
Logo eu
Que sempre fui tão digno
Ou pensei ser

Eu nunca tive tão clara a noção
De que fui longe demais

1 comment:

Neysi said...

Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento

Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão

Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação

Fonte, flor em fogo,
quem é que nos espera
por detrás da noite ?

Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino

(Ferreira Gullar, Poemas Portugueses)