Saturday, May 28, 2005

Prece

Agora olhe,
Não pra mim,
Se é que 'inda se lembra...

Olhe pra luz
Vulgarmente azulada
De todos os hotéis baratos
Da Praça da Bandeira

E vê que o meu amor, amor
Não valeu nada, não valeu a pena
Ainda que tenha sido infinitamente feliz
Em todas as luzes
Vulgarmente azuladas
De todos os hotéis baratos
De todas as praças da bandeira

E que meu coração ficou a ver navios
A esperar pelas barcas em Paquetá,
A apertar os olhos
Ao ver a escuridão passar,
A ejacular na cama às três da madrugada
E lembrar que o choro também seria uma forma de prazer
Ou vice-versa
Pra nunca mais esquecer

Saturday, May 21, 2005

AINDA AMOR EM VÃO

Por onde você anda,
menina de pele alva?
Pra onde mandar
meu coração te procurar?

Eu continuo confuso,
paradoxal e com olhos apertados,
só que perdi um braço,
não sei bem qual dos dois

Perdi também minha santa e rebelde
inocência
Fiquei mais canalha
pra me preservar

Mas quando a sombra negra
de tua pele alva
vem me visitar
eu não recobro as cores de antigamente,
pelo menos não a melhor delas...

Menina, eu te amo tão profundamente
que nem eu entendo bem

Só sei que ficou um buraco
no meu peito
Só sei que me sinto
vagamente culpado
E tenho uma impressão de nunca mais
na garganta

Saturday, May 14, 2005

De Que Poeta Precisamos

Estou de saco cheio do poeta do significante
Técnica, técnica, técnica
Arte pela arte
Fôrma hipócrita, estrutura oca...

Poetas do significado existem aos montes
Enchendo o inferno
De boas intenções
E o ar de falta de poesia

Quero ser poeta de verdade
Louco visionário, profeta, artesão da luta
Retirando de cada gota de sangue ou suor
A poesia dos signos vivos

Saturday, May 07, 2005

Mais Uma Leve Como Leve Pluma Muito Leve Leve Pousa

Essa mulher é meu delírio
Uma doença, um vírus
Que apaga minha tela
E me deixa ver

Essa mulher é meu sonho freudiano
Mãe, amante e filhinha desamparada
A encher minha mente
De perversões

E se a vida me deu
A essa mulher
Não serei eu a contestar
Os desígnios desse anjo louco,
Torto e solto
Que escreveu a minha mão

Que venha a felicidade
Eu acho que agüento.