Pois é... eu disse que tinha encerrado o blog, mas aqui estou novamente. Não me comprometo com prazos nem regularidade, mas sempre que tiver um poema novo, vou postar. O de hoje é esse:
QUERO-ME EM TI
Quero o meu sorriso em tua boca
E teu pranto em meu olhar
Quero teus conflitos em meu peito
E a pouca paz que houver pra dar
Quero minha alma entre teus dentes
E teu coração em meu pulsar
Quero tua vida ali em frente
E o mais que venha a transmutar
Quero ser teu enquanto houver presente
E o meu há de ser minha vida em teu voar
Vem brincar, menina linda
Deixa teu sol nascer em mim
Sunday, November 20, 2005
Sunday, August 21, 2005
Aniversário & Fim de Linha
Amigos do Poesia Residual,
Em 18 de agosto este blog completou um ano de vida. Durante este ano publicamos um poema "novo" a cada sábado. A idéia era fazer do blog um veículo para poemas ainda inéditos, sobretudo para minha produção mais recente. Contudo, as tarefas do dia-a-dia começaram a se acumular, especialmente depois de me tornar aluno de doutorado do Instituto de Letras da UFF. Assim, passei a ter pouquíssimo tempo para escrever poemas novos. Como conseqüência, os últimos poemas postados eram antigos e até já haviam sido publicados em livro. De qualquer forma, acho que o Poesia Residual cumpriu seu papel como blog. Não pretendo atualizá-lo mais. Meus próximos projetos incluem a transformação do Poesia Residual em livro convencional e a criação de um novo blog, agora para textos em prosa. Assim que tiver novidades, avisarei através de um novo post aqui. Até breve e obrigado pelo carinho.
Ricardo Almeida
Saturday, August 13, 2005
Não Nos Julgue Tão Severamente...
Somos filhos de Guernica e Hiroshima,
Somos filhos de Inês de Castro,
Somos filhos de Romeu e Julieta
E dos crimes passionais...
Somos filhos de Hitler, Reagan e Krushov,
Somos filhos da Santa Inquisição,
Somos filhos de Hendrix, Joplin e Lennon
E da falta de amor...
Somos filhos das esquizofrenias, neuroses e paranóias,
Somos filhos da Censura Federal,
Somos filhos dos pais separados
E dos golpes militares...
Somos teus filhos: Deus Pai Celeste!
Planeta Terra, Século XX, Casa do Sol Nascente.
(Este é um poema antigo, do século passado, como se vê. Mas, estranhamente, ainda o acho atual.)
Somos filhos de Inês de Castro,
Somos filhos de Romeu e Julieta
E dos crimes passionais...
Somos filhos de Hitler, Reagan e Krushov,
Somos filhos da Santa Inquisição,
Somos filhos de Hendrix, Joplin e Lennon
E da falta de amor...
Somos filhos das esquizofrenias, neuroses e paranóias,
Somos filhos da Censura Federal,
Somos filhos dos pais separados
E dos golpes militares...
Somos teus filhos: Deus Pai Celeste!
Planeta Terra, Século XX, Casa do Sol Nascente.
(Este é um poema antigo, do século passado, como se vê. Mas, estranhamente, ainda o acho atual.)
Saturday, August 06, 2005
Tempo Nublado
O tempo está nublado
Já acordou assim
Um tanto nostálgico e entorpecido
Como tivesse tomado uns quantos copos de vodca
Sua nostalgia triste-alegre
Aumenta à medida que a chuva cai
Fina, suave, quase imperceptível
Sumindo como o passado presente
Momento de desespero
Necessidade de suar sangue
No entanto retida
De tanto torpor
A chuva continua sumida
Embora mais intensa
O temporal não desabou
Ficou guardado
Lá dentro
Aparecendo em alguns momentos
Sob diversas formas amorfas
Enfim,
ninguém ligou
ninguém liga
ninguém ligará
Já acordou assim
Um tanto nostálgico e entorpecido
Como tivesse tomado uns quantos copos de vodca
Sua nostalgia triste-alegre
Aumenta à medida que a chuva cai
Fina, suave, quase imperceptível
Sumindo como o passado presente
Momento de desespero
Necessidade de suar sangue
No entanto retida
De tanto torpor
A chuva continua sumida
Embora mais intensa
O temporal não desabou
Ficou guardado
Lá dentro
Aparecendo em alguns momentos
Sob diversas formas amorfas
Enfim,
ninguém ligou
ninguém liga
ninguém ligará
Saturday, July 30, 2005
Poema Confissão (para todos os cegos - ilustres ou não)
Que se dane o que possam pensar da poesia
Eu só quero sentir, sentir, sentir
Que se danem a métrica, a rima, a fôrma
E que se dane o ritmo, Manuel Bandeira
Que se dane a estética antropofágica
Eu só quero vomitar meu sentimento
Meu compromisso é com a vida, com a paixão
Eu amo vocês
Poesia é nudez, Ginsberg?
Que se dane o que é a poesia
Eu quero trepar, gozar
E matar o meu amor às cinco horas da manhã
E ainda que vocês não entendam
Eu amo Oswald, Chacal,
Bandeira e coisa e tal
Mas intocável mesmo
Só substantivo abstrato
E calcinha da professora
Morte ao sindicato dos deuses
Eu quero ser livre
Eu só quero sentir, sentir, sentir
Que se danem a métrica, a rima, a fôrma
E que se dane o ritmo, Manuel Bandeira
Que se dane a estética antropofágica
Eu só quero vomitar meu sentimento
Meu compromisso é com a vida, com a paixão
Eu amo vocês
Poesia é nudez, Ginsberg?
Que se dane o que é a poesia
Eu quero trepar, gozar
E matar o meu amor às cinco horas da manhã
E ainda que vocês não entendam
Eu amo Oswald, Chacal,
Bandeira e coisa e tal
Mas intocável mesmo
Só substantivo abstrato
E calcinha da professora
Morte ao sindicato dos deuses
Eu quero ser livre
Saturday, July 23, 2005
Espreguiçar
De um quarto fechado
Alguém contempla o mundo
Sua visão ultrapassa a fresta da janela entreaberta
Desvia-se das grades de metal
Sobe e pousa num galho de árvore
O Sol arde e queima
No céu
Um de seus raios
Desce, passa por entre as folhas da árvore
Desvia-se das grades de metal
Vence a fresta da janela
E deita-se numa cama
Aquecendo as idéias de seu habitante
Que recolhe sem pressa sua visão
Alguém contempla o mundo
Sua visão ultrapassa a fresta da janela entreaberta
Desvia-se das grades de metal
Sobe e pousa num galho de árvore
O Sol arde e queima
No céu
Um de seus raios
Desce, passa por entre as folhas da árvore
Desvia-se das grades de metal
Vence a fresta da janela
E deita-se numa cama
Aquecendo as idéias de seu habitante
Que recolhe sem pressa sua visão
Saturday, July 16, 2005
Poema da Redescoberta
Aprendi que não basta aprender
A ler o escrito nas entrelinhas
E o não-escrito por trás delas.
Para que possamos descobrir
A Essência, que homens mórbidos
Insistem em tentar velar
(Retirar da linha de nossa visão)
É preciso que, de repente,
Desmorone o grande castelo
(Que posto fosse de areia,
Parecia extremamente sólido).
Não basta perceber que o rei está nu
E desmascarar o discurso do poder,
É preciso se perceber nu,
Sentir vergonha, medo, insegurança...
Largar todas as tábuas de salvação,
Abrir mão das certezas,
E replantar, talvez no cimento,
Tudo que era morando
E mofo se tornou.
Ainda que correndo o risco
De não sobreviver.
A ler o escrito nas entrelinhas
E o não-escrito por trás delas.
Para que possamos descobrir
A Essência, que homens mórbidos
Insistem em tentar velar
(Retirar da linha de nossa visão)
É preciso que, de repente,
Desmorone o grande castelo
(Que posto fosse de areia,
Parecia extremamente sólido).
Não basta perceber que o rei está nu
E desmascarar o discurso do poder,
É preciso se perceber nu,
Sentir vergonha, medo, insegurança...
Largar todas as tábuas de salvação,
Abrir mão das certezas,
E replantar, talvez no cimento,
Tudo que era morando
E mofo se tornou.
Ainda que correndo o risco
De não sobreviver.
Saturday, July 09, 2005
Lição
Aprendi a ler nas entrelinhas
(E por trás delas)
A cada novo esbarrão
Em um ponto final.
Mas não espere encontrar nas minhas
Palavras belas
Pois minha intenção
(Se me consente)
É pôr em sua mente
Um ponto de interrogação
- ou não?
(E por trás delas)
A cada novo esbarrão
Em um ponto final.
Mas não espere encontrar nas minhas
Palavras belas
Pois minha intenção
(Se me consente)
É pôr em sua mente
Um ponto de interrogação
- ou não?
Saturday, July 02, 2005
Menino, Comporte-se...
Comporte-se seriamente
Comporte-se de acordo com a moral
Comporte frustrações somente
Sê um débil mental.
Comporte-se de acordo com a moral
Comporte frustrações somente
Sê um débil mental.
Saturday, June 25, 2005
Há Um Poema Em Cada Gota de Sangue
Em tudo que você olha
Em tudo, tudo que você não vê
E tudo que você colhe,
E tudo que morre
E tudo que existe,
E aquilo que você imagina
E em cada segundo da vida há poesia,
Mas a pena se recusa a encher o papel...
Em tudo, tudo que você não vê
E tudo que você colhe,
E tudo que morre
E tudo que existe,
E aquilo que você imagina
E em cada segundo da vida há poesia,
Mas a pena se recusa a encher o papel...
Saturday, June 18, 2005
Tchau!
Quando ela foi embora
pensei em tudo,
menos em poesia: Tomei um porre!
E poetizei bêbado as ruas imundas,
Vomitando meu sentimento,
Como pichasse seu nome
nos muros da cidade,
abarrotados de propaganda política...
pensei em tudo,
menos em poesia: Tomei um porre!
E poetizei bêbado as ruas imundas,
Vomitando meu sentimento,
Como pichasse seu nome
nos muros da cidade,
abarrotados de propaganda política...
Saturday, June 11, 2005
POR UM DESESPERO AGRADÁVEL
Eu sou um ladrão de idéias
Como todo bom poeta
Feitor das palavras
Sádico como um chicote
Mudo como uma porta
Impublicável
Eu sou um louco
À procura da vida e do amor
À tua procura
À minha procura
Eu vivo
Eu sinto medo e quero a coragem
A coragem de um herói trágico
A coragem de ser humano
Eu vivo e sobrevivo
Um Napoleão absolutamente anônimo
Como todo bom poeta
Feitor das palavras
Sádico como um chicote
Mudo como uma porta
Impublicável
Eu sou um louco
À procura da vida e do amor
À tua procura
À minha procura
Eu vivo
Eu sinto medo e quero a coragem
A coragem de um herói trágico
A coragem de ser humano
Eu vivo e sobrevivo
Um Napoleão absolutamente anônimo
Saturday, June 04, 2005
Primeiro Poema Erótico
Essa mulher não é mulher,
É peixe, nadando ora contra a corrente
Ora a favor da maré
Essa mulher é misto de bicho carente
E mar que envolve a gente
Entre suas pernas de mulher
E pede um poema
E pede um soneto
E salta do aquário em busca do ar
Mas minha pena
Prefere à rigidez do soneto
O passeio safado
De um poeta tarado
Por suas formas morenas
Claras formas flexíveis
Do seu corpo de mulher
Essa mulher não é mulher,
É peixe...
É peixe, nadando ora contra a corrente
Ora a favor da maré
Essa mulher é misto de bicho carente
E mar que envolve a gente
Entre suas pernas de mulher
E pede um poema
E pede um soneto
E salta do aquário em busca do ar
Mas minha pena
Prefere à rigidez do soneto
O passeio safado
De um poeta tarado
Por suas formas morenas
Claras formas flexíveis
Do seu corpo de mulher
Essa mulher não é mulher,
É peixe...
Saturday, May 28, 2005
Prece
Agora olhe,
Não pra mim,
Se é que 'inda se lembra...
Olhe pra luz
Vulgarmente azulada
De todos os hotéis baratos
Da Praça da Bandeira
E vê que o meu amor, amor
Não valeu nada, não valeu a pena
Ainda que tenha sido infinitamente feliz
Em todas as luzes
Vulgarmente azuladas
De todos os hotéis baratos
De todas as praças da bandeira
E que meu coração ficou a ver navios
A esperar pelas barcas em Paquetá,
A apertar os olhos
Ao ver a escuridão passar,
A ejacular na cama às três da madrugada
E lembrar que o choro também seria uma forma de prazer
Ou vice-versa
Pra nunca mais esquecer
Não pra mim,
Se é que 'inda se lembra...
Olhe pra luz
Vulgarmente azulada
De todos os hotéis baratos
Da Praça da Bandeira
E vê que o meu amor, amor
Não valeu nada, não valeu a pena
Ainda que tenha sido infinitamente feliz
Em todas as luzes
Vulgarmente azuladas
De todos os hotéis baratos
De todas as praças da bandeira
E que meu coração ficou a ver navios
A esperar pelas barcas em Paquetá,
A apertar os olhos
Ao ver a escuridão passar,
A ejacular na cama às três da madrugada
E lembrar que o choro também seria uma forma de prazer
Ou vice-versa
Pra nunca mais esquecer
Saturday, May 21, 2005
AINDA AMOR EM VÃO
Por onde você anda,
menina de pele alva?
Pra onde mandar
meu coração te procurar?
Eu continuo confuso,
paradoxal e com olhos apertados,
só que perdi um braço,
não sei bem qual dos dois
Perdi também minha santa e rebelde
inocência
Fiquei mais canalha
pra me preservar
Mas quando a sombra negra
de tua pele alva
vem me visitar
eu não recobro as cores de antigamente,
pelo menos não a melhor delas...
Menina, eu te amo tão profundamente
que nem eu entendo bem
Só sei que ficou um buraco
no meu peito
Só sei que me sinto
vagamente culpado
E tenho uma impressão de nunca mais
na garganta
menina de pele alva?
Pra onde mandar
meu coração te procurar?
Eu continuo confuso,
paradoxal e com olhos apertados,
só que perdi um braço,
não sei bem qual dos dois
Perdi também minha santa e rebelde
inocência
Fiquei mais canalha
pra me preservar
Mas quando a sombra negra
de tua pele alva
vem me visitar
eu não recobro as cores de antigamente,
pelo menos não a melhor delas...
Menina, eu te amo tão profundamente
que nem eu entendo bem
Só sei que ficou um buraco
no meu peito
Só sei que me sinto
vagamente culpado
E tenho uma impressão de nunca mais
na garganta
Saturday, May 14, 2005
De Que Poeta Precisamos
Estou de saco cheio do poeta do significante
Técnica, técnica, técnica
Arte pela arte
Fôrma hipócrita, estrutura oca...
Poetas do significado existem aos montes
Enchendo o inferno
De boas intenções
E o ar de falta de poesia
Quero ser poeta de verdade
Louco visionário, profeta, artesão da luta
Retirando de cada gota de sangue ou suor
A poesia dos signos vivos
Técnica, técnica, técnica
Arte pela arte
Fôrma hipócrita, estrutura oca...
Poetas do significado existem aos montes
Enchendo o inferno
De boas intenções
E o ar de falta de poesia
Quero ser poeta de verdade
Louco visionário, profeta, artesão da luta
Retirando de cada gota de sangue ou suor
A poesia dos signos vivos
Saturday, May 07, 2005
Mais Uma Leve Como Leve Pluma Muito Leve Leve Pousa
Essa mulher é meu delírio
Uma doença, um vírus
Que apaga minha tela
E me deixa ver
Essa mulher é meu sonho freudiano
Mãe, amante e filhinha desamparada
A encher minha mente
De perversões
E se a vida me deu
A essa mulher
Não serei eu a contestar
Os desígnios desse anjo louco,
Torto e solto
Que escreveu a minha mão
Que venha a felicidade
Eu acho que agüento.
Uma doença, um vírus
Que apaga minha tela
E me deixa ver
Essa mulher é meu sonho freudiano
Mãe, amante e filhinha desamparada
A encher minha mente
De perversões
E se a vida me deu
A essa mulher
Não serei eu a contestar
Os desígnios desse anjo louco,
Torto e solto
Que escreveu a minha mão
Que venha a felicidade
Eu acho que agüento.
Saturday, April 30, 2005
Poema Doce
Doce menina sapeca,
Doce é teu nome,
Menina levada,
Doce de goiaba,
Doce lembrança
Dos tempos de infância
Soltos nas ruas,
Nos quintais suburbanos
Da casa de minha avó.
Doce é teu nome,
Agora mulher,
Mas com um sorriso maroto
No canto da boca.
Riso de menina
Que corre descalça,
Que brinca na rua,
Toma banho de rio
E rouba frutas diversas
Dos quintais alheios.
Doce é teu nome,
Levado, o sorriso,
Doce é a vida,
Vivo é o rio.
Doce é teu nome,
Menina levada,
Doce de goiaba,
Doce lembrança
Dos tempos de infância
Soltos nas ruas,
Nos quintais suburbanos
Da casa de minha avó.
Doce é teu nome,
Agora mulher,
Mas com um sorriso maroto
No canto da boca.
Riso de menina
Que corre descalça,
Que brinca na rua,
Toma banho de rio
E rouba frutas diversas
Dos quintais alheios.
Doce é teu nome,
Levado, o sorriso,
Doce é a vida,
Vivo é o rio.
Saturday, April 23, 2005
Cortes
Eu sou um aleijado
Asas, faltam-me asas
Alma, falta-me a alma
Eu sou um mutilado
Falta-me o sorriso de criança
Estirpado por algum bisturi
Eu ando apoiado em muletas
E tomo quilos de neosaldina
Pra aliviar a dor
Eu vivo como quem perdeu o coração
Ou, pelo menos, seus batimentos mais simples
Como quem faz hemodiálise
De lembranças...
Eu sou um aleijado
Sonhos, faltam-me os sonhos.
Asas, faltam-me asas
Alma, falta-me a alma
Eu sou um mutilado
Falta-me o sorriso de criança
Estirpado por algum bisturi
Eu ando apoiado em muletas
E tomo quilos de neosaldina
Pra aliviar a dor
Eu vivo como quem perdeu o coração
Ou, pelo menos, seus batimentos mais simples
Como quem faz hemodiálise
De lembranças...
Eu sou um aleijado
Sonhos, faltam-me os sonhos.
Saturday, April 16, 2005
A Torquato Neto
São três da madrugada
E meu coração vazio não vale, nunca valeu, nem
Nunca valerá nada
São três da madrugada, Torquato
E eu choro que nem uma boneca vagabunda,
Implorando um pouco de paz...
Um pouco de gás...
São três da madrugada
E ela nunca tomou nota
Do amor que guardei só pra ela
E que secou feito leite estragado
São três da madrugada, bicho
Eu já andei pra caralho
E tô tão cansado
Que cortaria um braço
Pra me sentir mais leve
São três da madrugada, Torquato
E eu rezo a você
Uma reza louca,
Descabelado, desgrenhado,
Babando sangue pelo canto da boca
São três da madrugada
Pobres de nós, Torquato
E meu coração vazio não vale, nunca valeu, nem
Nunca valerá nada
São três da madrugada, Torquato
E eu choro que nem uma boneca vagabunda,
Implorando um pouco de paz...
Um pouco de gás...
São três da madrugada
E ela nunca tomou nota
Do amor que guardei só pra ela
E que secou feito leite estragado
São três da madrugada, bicho
Eu já andei pra caralho
E tô tão cansado
Que cortaria um braço
Pra me sentir mais leve
São três da madrugada, Torquato
E eu rezo a você
Uma reza louca,
Descabelado, desgrenhado,
Babando sangue pelo canto da boca
São três da madrugada
Pobres de nós, Torquato
Saturday, April 09, 2005
La Vie En Rose
Meu deus, onde foi que deixei minha vida?
Parece ter sumido com meus brinquedos
Através do buraco negro por onde foi minha infância...
Talvez tenha escorrido dos meus olhos,
Rolado pelo meu rosto
E encharcado a fronha,
Junto com lágrimas de raiva da pré-adolescência...
Nas casas dos amigos
Cobertos pela poeira do tempo?
Onde foi que me perdi de mim?
Nos banheiros, desesperado, tentando me recompor
Para retornar à mesa e aos amigos?
Nas pontas atiradas pelas janelas
Dos carros nas estradas?
Nos copos de vodca?
No sexo? Nas drogas? No rock'n'roll?
Quando foi exatamente que minha vida se obscureceu?
Depois de que reunião? Em que aparelho?
Depois de qual beijo?
Em que sessão de psicanálise
Exorcizando amores fracassados?
Em que medo sentido?
Quando, diabos, deixei de existir
Para tornar-me esfinge de mim mesmo
E devorar-me
Autofagicamente?
Parece ter sumido com meus brinquedos
Através do buraco negro por onde foi minha infância...
Talvez tenha escorrido dos meus olhos,
Rolado pelo meu rosto
E encharcado a fronha,
Junto com lágrimas de raiva da pré-adolescência...
Nas casas dos amigos
Cobertos pela poeira do tempo?
Onde foi que me perdi de mim?
Nos banheiros, desesperado, tentando me recompor
Para retornar à mesa e aos amigos?
Nas pontas atiradas pelas janelas
Dos carros nas estradas?
Nos copos de vodca?
No sexo? Nas drogas? No rock'n'roll?
Quando foi exatamente que minha vida se obscureceu?
Depois de que reunião? Em que aparelho?
Depois de qual beijo?
Em que sessão de psicanálise
Exorcizando amores fracassados?
Em que medo sentido?
Quando, diabos, deixei de existir
Para tornar-me esfinge de mim mesmo
E devorar-me
Autofagicamente?
Saturday, April 02, 2005
Remendos do Dia
Queria devolver tua alma
E fingir que nada de teu ficou em mim
Nem esse cansaço de me saber covarde
Nem essa dor de me fazer algoz
Queria devolver tua alegria
E fugir, que nada de meu ficou em ti
Nem esses olhos que te sabem frágil
Nem essas asas que te cortam a carne
Mas o mundo me chama
E o mal está feito...
E nem mil remendos
Consertariam o dia estilhaçado
E fingir que nada de teu ficou em mim
Nem esse cansaço de me saber covarde
Nem essa dor de me fazer algoz
Queria devolver tua alegria
E fugir, que nada de meu ficou em ti
Nem esses olhos que te sabem frágil
Nem essas asas que te cortam a carne
Mas o mundo me chama
E o mal está feito...
E nem mil remendos
Consertariam o dia estilhaçado
Saturday, March 26, 2005
Sobre Poemas e Porres
Eu escrevo poemas
Como quem passa mal
Eu procuro seu rosto
Como quem busca a paz
Eu distorço a verdade
Como quem não a quer
Eu tomo porres homéricos
Como um ato de fé
Eu acredito em mentiras
Eu escrevo poemas
Como quem passa mal
Eu procuro seu rosto
Como quem busca a paz
Eu distorço a verdade
Como quem não a quer
Eu tomo porres homéricos
Como um ato de fé
Eu acredito em mentiras
Eu escrevo poemas
Saturday, March 19, 2005
Muros & Pontes
Muros e pontes criamos
Enquantos esperamos
Muros e pontes grafamos
Enquanto passamos
Muros e pontes...
Estranhas construções!
Estranho que só possa pensá-las
Como lados da mesma moeda
Como partes da mesma espera
Muros e pontes vivemos
Enquanto o dia não vem
Enquantos esperamos
Muros e pontes grafamos
Enquanto passamos
Muros e pontes...
Estranhas construções!
Estranho que só possa pensá-las
Como lados da mesma moeda
Como partes da mesma espera
Muros e pontes vivemos
Enquanto o dia não vem
Saturday, March 12, 2005
Crepúsculos
Entre o real e o possível,
Plenos de sangue,
Lindos sonhos tivemos
Entre a viagem e a guerra,
Prenhes de sentidos,
Longas metáforas vivemos
Entre o desejo e a boca
Um novo tempo estranho
Agora me paraliza
Entre pálpebras e vigília
Uma alma provisória
Inquieta adormece
Plenos de sangue,
Lindos sonhos tivemos
Entre a viagem e a guerra,
Prenhes de sentidos,
Longas metáforas vivemos
Entre o desejo e a boca
Um novo tempo estranho
Agora me paraliza
Entre pálpebras e vigília
Uma alma provisória
Inquieta adormece
Saturday, March 05, 2005
Todas as Horas
Eu te amo assim hesitante
Cauteloso
Como quem devesse um dia odiar
Eu te odeio assim hesitante
Receoso
De que um dia devesse te amar
Eu vivo assim hesitante
Temeroso
De que cada esquina esconda o final
Hesitante...
Como quem devesse viver
O amor, o ódio
E as paixões de todas as horas
Comedidamente
Cauteloso
Como quem devesse um dia odiar
Eu te odeio assim hesitante
Receoso
De que um dia devesse te amar
Eu vivo assim hesitante
Temeroso
De que cada esquina esconda o final
Hesitante...
Como quem devesse viver
O amor, o ódio
E as paixões de todas as horas
Comedidamente
Saturday, February 26, 2005
Daqui
Eu escrevo o meu quintal
Minha curva e incerteza
Eu canto o meu amor
Beijos antiframboesa
Eu traço meu rabisco
Nos espinhos desse muro
Eu grafo e solto o grito
Das costas das troças do mundo
Minha curva e incerteza
Eu canto o meu amor
Beijos antiframboesa
Eu traço meu rabisco
Nos espinhos desse muro
Eu grafo e solto o grito
Das costas das troças do mundo
Saturday, February 19, 2005
Concêntricos
Menina, eu odeio acrósticos
E nomes
E tudo aquilo que personalize
O que deve apenas partir do pessoal
E, ainda assim, te amo...
E, no entanto,
Apesar de tanto te amar,
Meu amor por ti não importa
Mais que o amor simplesmente
E nem o teu olhar,
Que tanto me cativa,
É importante em si
Senão pelo que revela
Do gênero humano
E tu és apenas o centro de ti
E eu, apenas o centro de mim
E quanto a escrever poemas
Mais valem os múltiplos olhares
Que possas me emprestar
E nomes
E tudo aquilo que personalize
O que deve apenas partir do pessoal
E, ainda assim, te amo...
E, no entanto,
Apesar de tanto te amar,
Meu amor por ti não importa
Mais que o amor simplesmente
E nem o teu olhar,
Que tanto me cativa,
É importante em si
Senão pelo que revela
Do gênero humano
E tu és apenas o centro de ti
E eu, apenas o centro de mim
E quanto a escrever poemas
Mais valem os múltiplos olhares
Que possas me emprestar
Saturday, February 12, 2005
Riscos & Possibilidades (Dias Perigosos)
[Parris], like the rest of Salem, never conceived that the children were anything but thankful for being permitted to walk straight, eyes slightly lowered, arms at the sides, and mouths shut until bidden to speak.
(Arthur Miller - The Crucible)
A vida é um risco, menino
E você pode falar o que pensa
Desde que todos concordem
+
Nestes dias perigosos
Não há espaço para a poesia
E a sinceridade deve ficar bem escondida
Atrás de lisonjas e sorrisos
+
Menino, comporte-se
Divergir pra quê?
Decore o script
E depois conversamos
+
Amenidades, por favor
Que a palavra agora
Tem uma estranha função
+
Sim, são dias perigosos
Por mais que se diga o contrário...
+
Mas você pode dizer o que quiser
Desde que não seja o que pensa
Desde que seja mais uma voz
No coro da indiferença
+
Ainda que o silêncio pese uma tonelada...
Saturday, February 05, 2005
Danças
Musicais da Broadway
me dão enjôos
Os passos que amo
não são marcados
nem precisam de coro
ao fundo
Os passos que amo
são movimentos espontâneos
de uma dança epiléptica
livre e insegura
Bonecos de mamulengo
que balançam
e tantas vezes caem
Equilibristas bêbados
de uma vida
sem ordem unida
Beijos, tropeços e quedas
Encontros
de corpos indisciplinados
que espontaneamente
se fundem
e movem-se atabalhoados
emprestando beleza
a estranhos espasmos
descoreografados
me dão enjôos
Os passos que amo
não são marcados
nem precisam de coro
ao fundo
Os passos que amo
são movimentos espontâneos
de uma dança epiléptica
livre e insegura
Bonecos de mamulengo
que balançam
e tantas vezes caem
Equilibristas bêbados
de uma vida
sem ordem unida
Beijos, tropeços e quedas
Encontros
de corpos indisciplinados
que espontaneamente
se fundem
e movem-se atabalhoados
emprestando beleza
a estranhos espasmos
descoreografados
Saturday, January 29, 2005
Canção Desconfiada
Desconfie de certezas
Nada é
Nem se parece
E tudo que é sórdido
Se esconde no ar
Desconfie de fronteiras
A areia não termina
Onde começa a água
E eu não termino
Onde você começa
Se você me faz
E desconfie de quem ama
Não porque não ame
Mas porque amar
É perigosamente
Diluir as bordas
De certezas e fronteiras
Mas sobretudo desconfie de poetas desconfiados
Que desconfiam de tudo
Até mesmo de versinhos
Romanticamente sorridentes
E de poemas incertos
Que amam desfronteiras
Nada é
Nem se parece
E tudo que é sórdido
Se esconde no ar
Desconfie de fronteiras
A areia não termina
Onde começa a água
E eu não termino
Onde você começa
Se você me faz
E desconfie de quem ama
Não porque não ame
Mas porque amar
É perigosamente
Diluir as bordas
De certezas e fronteiras
Mas sobretudo desconfie de poetas desconfiados
Que desconfiam de tudo
Até mesmo de versinhos
Romanticamente sorridentes
E de poemas incertos
Que amam desfronteiras
Saturday, January 22, 2005
Múltiplos
Quero-te
Simples
Como quem ama
Quero-te
Múltipla
Como és
E estilhaçado
Como sou
Quero-te
Inteira
Pela metade
E com a melhor face
Que te dou
Quero te dar
Todos meus amores
Quero provar
Todos teus sabores
Exclusivos somos
Do mundo que somos
E dos outros
Que nos fazem
Seus construtores
Quero-te leve
E dou-me mosaico
Do mundo que somos
Do mundo que somos
Somos daqueles
Que assim desejaram
Nos reinventar
E conjugamos
De múltiplas formas
Novas e leves
Uma estranha essência
Sempre um tanto avessa
A se cristalizar
Simples
Como quem ama
Quero-te
Múltipla
Como és
E estilhaçado
Como sou
Quero-te
Inteira
Pela metade
E com a melhor face
Que te dou
Quero te dar
Todos meus amores
Quero provar
Todos teus sabores
Exclusivos somos
Do mundo que somos
E dos outros
Que nos fazem
Seus construtores
Quero-te leve
E dou-me mosaico
Do mundo que somos
Do mundo que somos
Somos daqueles
Que assim desejaram
Nos reinventar
E conjugamos
De múltiplas formas
Novas e leves
Uma estranha essência
Sempre um tanto avessa
A se cristalizar
Saturday, January 15, 2005
Poema Incerto
Certos poemas
São polígonos
Outros
Linhas poligonais
Abertas
Certos poemas...
Em certos poemas
Encerro o óbvio enigma
Incertos poemas
Tão óbvios
Quanto a alma
Do poeta
Tão enigmáticos
Quanto
Seus segredos...
O resto é prosa
São polígonos
Outros
Linhas poligonais
Abertas
Certos poemas...
Em certos poemas
Encerro o óbvio enigma
Incertos poemas
Tão óbvios
Quanto a alma
Do poeta
Tão enigmáticos
Quanto
Seus segredos...
O resto é prosa
Saturday, January 08, 2005
Inventário em Preto e Branco
Tenho um pequeno caderno vermelho
Onde guardo pequenas gotas do que fui
Trago um olhar azul de cachorro
Triste e um tanto melancólico
Que às vezes vira um sorriso castanho de filhote
Possuo quartos brancos numerados
Onde és bem vinda a qualquer hora
E gavetas grafite bem trancadas
Em que acumulo dores incolores
E cultivo almas transparentes
Onde guardo pequenas gotas do que fui
Trago um olhar azul de cachorro
Triste e um tanto melancólico
Que às vezes vira um sorriso castanho de filhote
Possuo quartos brancos numerados
Onde és bem vinda a qualquer hora
E gavetas grafite bem trancadas
Em que acumulo dores incolores
E cultivo almas transparentes
Saturday, January 01, 2005
Poesia Residual
Não consigo escrever poemas
Sem ser exagerado
A hipérbole é minha terra
A paixão, meu arado
Me surpreendo, de repente,
Compondo versos rimados
Como quem respira sofregamente
A alma do inusitado
Eu escrevo como quem vive
Eu vivo como quem morre
(Desejo a todos os amigos do Poesia Residual um feliz 2005 e peço que mandem seus melhores pensamentos a Luiz Otávio Lopes, amigo de infância e irmão de alma e poesia que sofreu um derrame neste Natal. Que sejamos também solidários ao povo asiático, que não merecia a tragédia que está vivendo neste momento.)
Sem ser exagerado
A hipérbole é minha terra
A paixão, meu arado
Me surpreendo, de repente,
Compondo versos rimados
Como quem respira sofregamente
A alma do inusitado
Eu escrevo como quem vive
Eu vivo como quem morre
(Desejo a todos os amigos do Poesia Residual um feliz 2005 e peço que mandem seus melhores pensamentos a Luiz Otávio Lopes, amigo de infância e irmão de alma e poesia que sofreu um derrame neste Natal. Que sejamos também solidários ao povo asiático, que não merecia a tragédia que está vivendo neste momento.)
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