Sunday, November 20, 2005

Nada que se supõe definitivo se sustenta

Pois é... eu disse que tinha encerrado o blog, mas aqui estou novamente. Não me comprometo com prazos nem regularidade, mas sempre que tiver um poema novo, vou postar. O de hoje é esse:

QUERO-ME EM TI

Quero o meu sorriso em tua boca
E teu pranto em meu olhar
Quero teus conflitos em meu peito
E a pouca paz que houver pra dar

Quero minha alma entre teus dentes
E teu coração em meu pulsar
Quero tua vida ali em frente
E o mais que venha a transmutar

Quero ser teu enquanto houver presente
E o meu há de ser minha vida em teu voar

Vem brincar, menina linda
Deixa teu sol nascer em mim

Sunday, August 21, 2005

Aniversário & Fim de Linha

Amigos do Poesia Residual,

Em 18 de agosto este blog completou um ano de vida. Durante este ano publicamos um poema "novo" a cada sábado. A idéia era fazer do blog um veículo para poemas ainda inéditos, sobretudo para minha produção mais recente. Contudo, as tarefas do dia-a-dia começaram a se acumular, especialmente depois de me tornar aluno de doutorado do Instituto de Letras da UFF. Assim, passei a ter pouquíssimo tempo para escrever poemas novos. Como conseqüência, os últimos poemas postados eram antigos e até já haviam sido publicados em livro. De qualquer forma, acho que o Poesia Residual cumpriu seu papel como blog. Não pretendo atualizá-lo mais. Meus próximos projetos incluem a transformação do Poesia Residual em livro convencional e a criação de um novo blog, agora para textos em prosa. Assim que tiver novidades, avisarei através de um novo post aqui. Até breve e obrigado pelo carinho.
Ricardo Almeida

Saturday, August 13, 2005

Não Nos Julgue Tão Severamente...

Somos filhos de Guernica e Hiroshima,
Somos filhos de Inês de Castro,
Somos filhos de Romeu e Julieta
E dos crimes passionais...

Somos filhos de Hitler, Reagan e Krushov,
Somos filhos da Santa Inquisição,
Somos filhos de Hendrix, Joplin e Lennon
E da falta de amor...

Somos filhos das esquizofrenias, neuroses e paranóias,
Somos filhos da Censura Federal,
Somos filhos dos pais separados
E dos golpes militares...

Somos teus filhos: Deus Pai Celeste!
Planeta Terra, Século XX, Casa do Sol Nascente.

(Este é um poema antigo, do século passado, como se vê. Mas, estranhamente, ainda o acho atual.)

Saturday, August 06, 2005

Tempo Nublado

O tempo está nublado
Já acordou assim
Um tanto nostálgico e entorpecido
Como tivesse tomado uns quantos copos de vodca

Sua nostalgia triste-alegre
Aumenta à medida que a chuva cai
Fina, suave, quase imperceptível
Sumindo como o passado presente

Momento de desespero
Necessidade de suar sangue
No entanto retida
De tanto torpor

A chuva continua sumida
Embora mais intensa

O temporal não desabou
Ficou guardado
Lá dentro
Aparecendo em alguns momentos
Sob diversas formas amorfas

Enfim,
ninguém ligou
ninguém liga
ninguém ligará

Saturday, July 30, 2005

Poema Confissão (para todos os cegos - ilustres ou não)

Que se dane o que possam pensar da poesia
Eu só quero sentir, sentir, sentir

Que se danem a métrica, a rima, a fôrma
E que se dane o ritmo, Manuel Bandeira

Que se dane a estética antropofágica
Eu só quero vomitar meu sentimento

Meu compromisso é com a vida, com a paixão
Eu amo vocês
Poesia é nudez, Ginsberg?
Que se dane o que é a poesia

Eu quero trepar, gozar
E matar o meu amor às cinco horas da manhã

E ainda que vocês não entendam
Eu amo Oswald, Chacal,
Bandeira e coisa e tal

Mas intocável mesmo
Só substantivo abstrato
E calcinha da professora

Morte ao sindicato dos deuses
Eu quero ser livre

Saturday, July 23, 2005

Espreguiçar

De um quarto fechado
Alguém contempla o mundo

Sua visão ultrapassa a fresta da janela entreaberta
Desvia-se das grades de metal
Sobe e pousa num galho de árvore

O Sol arde e queima
No céu

Um de seus raios
Desce, passa por entre as folhas da árvore
Desvia-se das grades de metal
Vence a fresta da janela
E deita-se numa cama
Aquecendo as idéias de seu habitante
Que recolhe sem pressa sua visão

Saturday, July 16, 2005

Poema da Redescoberta

Aprendi que não basta aprender
A ler o escrito nas entrelinhas
E o não-escrito por trás delas.

Para que possamos descobrir
A Essência, que homens mórbidos
Insistem em tentar velar
(Retirar da linha de nossa visão)
É preciso que, de repente,
Desmorone o grande castelo
(Que posto fosse de areia,
Parecia extremamente sólido).

Não basta perceber que o rei está nu
E desmascarar o discurso do poder,
É preciso se perceber nu,
Sentir vergonha, medo, insegurança...
Largar todas as tábuas de salvação,
Abrir mão das certezas,
E replantar, talvez no cimento,
Tudo que era morando
E mofo se tornou.

Ainda que correndo o risco
De não sobreviver.

Saturday, July 09, 2005

Lição

Aprendi a ler nas entrelinhas
(E por trás delas)
A cada novo esbarrão
Em um ponto final.

Mas não espere encontrar nas minhas
Palavras belas
Pois minha intenção
(Se me consente)
É pôr em sua mente
Um ponto de interrogação
- ou não?

Saturday, July 02, 2005

Menino, Comporte-se...

Comporte-se seriamente
Comporte-se de acordo com a moral
Comporte frustrações somente
Sê um débil mental.

Saturday, June 25, 2005

Há Um Poema Em Cada Gota de Sangue

Em tudo que você olha
Em tudo, tudo que você não vê

E tudo que você colhe,
E tudo que morre

E tudo que existe,
E aquilo que você imagina

E em cada segundo da vida há poesia,
Mas a pena se recusa a encher o papel...

Saturday, June 18, 2005

Tchau!

Quando ela foi embora
pensei em tudo,
menos em poesia: Tomei um porre!

E poetizei bêbado as ruas imundas,
Vomitando meu sentimento,
Como pichasse seu nome
nos muros da cidade,
abarrotados de propaganda política...

Saturday, June 11, 2005

POR UM DESESPERO AGRADÁVEL

Eu sou um ladrão de idéias
Como todo bom poeta
Feitor das palavras
Sádico como um chicote
Mudo como uma porta
Impublicável

Eu sou um louco
À procura da vida e do amor
À tua procura
À minha procura

Eu vivo
Eu sinto medo e quero a coragem
A coragem de um herói trágico
A coragem de ser humano

Eu vivo e sobrevivo
Um Napoleão absolutamente anônimo

Saturday, June 04, 2005

Primeiro Poema Erótico

Essa mulher não é mulher,
É peixe, nadando ora contra a corrente
Ora a favor da maré

Essa mulher é misto de bicho carente
E mar que envolve a gente
Entre suas pernas de mulher

E pede um poema
E pede um soneto
E salta do aquário em busca do ar

Mas minha pena
Prefere à rigidez do soneto
O passeio safado
De um poeta tarado
Por suas formas morenas
Claras formas flexíveis
Do seu corpo de mulher

Essa mulher não é mulher,
É peixe...

Saturday, May 28, 2005

Prece

Agora olhe,
Não pra mim,
Se é que 'inda se lembra...

Olhe pra luz
Vulgarmente azulada
De todos os hotéis baratos
Da Praça da Bandeira

E vê que o meu amor, amor
Não valeu nada, não valeu a pena
Ainda que tenha sido infinitamente feliz
Em todas as luzes
Vulgarmente azuladas
De todos os hotéis baratos
De todas as praças da bandeira

E que meu coração ficou a ver navios
A esperar pelas barcas em Paquetá,
A apertar os olhos
Ao ver a escuridão passar,
A ejacular na cama às três da madrugada
E lembrar que o choro também seria uma forma de prazer
Ou vice-versa
Pra nunca mais esquecer

Saturday, May 21, 2005

AINDA AMOR EM VÃO

Por onde você anda,
menina de pele alva?
Pra onde mandar
meu coração te procurar?

Eu continuo confuso,
paradoxal e com olhos apertados,
só que perdi um braço,
não sei bem qual dos dois

Perdi também minha santa e rebelde
inocência
Fiquei mais canalha
pra me preservar

Mas quando a sombra negra
de tua pele alva
vem me visitar
eu não recobro as cores de antigamente,
pelo menos não a melhor delas...

Menina, eu te amo tão profundamente
que nem eu entendo bem

Só sei que ficou um buraco
no meu peito
Só sei que me sinto
vagamente culpado
E tenho uma impressão de nunca mais
na garganta

Saturday, May 14, 2005

De Que Poeta Precisamos

Estou de saco cheio do poeta do significante
Técnica, técnica, técnica
Arte pela arte
Fôrma hipócrita, estrutura oca...

Poetas do significado existem aos montes
Enchendo o inferno
De boas intenções
E o ar de falta de poesia

Quero ser poeta de verdade
Louco visionário, profeta, artesão da luta
Retirando de cada gota de sangue ou suor
A poesia dos signos vivos

Saturday, May 07, 2005

Mais Uma Leve Como Leve Pluma Muito Leve Leve Pousa

Essa mulher é meu delírio
Uma doença, um vírus
Que apaga minha tela
E me deixa ver

Essa mulher é meu sonho freudiano
Mãe, amante e filhinha desamparada
A encher minha mente
De perversões

E se a vida me deu
A essa mulher
Não serei eu a contestar
Os desígnios desse anjo louco,
Torto e solto
Que escreveu a minha mão

Que venha a felicidade
Eu acho que agüento.

Saturday, April 30, 2005

Poema Doce

Doce menina sapeca,
Doce é teu nome,
Menina levada,
Doce de goiaba,
Doce lembrança
Dos tempos de infância
Soltos nas ruas,
Nos quintais suburbanos
Da casa de minha avó.

Doce é teu nome,
Agora mulher,
Mas com um sorriso maroto
No canto da boca.
Riso de menina
Que corre descalça,
Que brinca na rua,
Toma banho de rio
E rouba frutas diversas
Dos quintais alheios.

Doce é teu nome,
Levado, o sorriso,
Doce é a vida,
Vivo é o rio.

Saturday, April 23, 2005

Cortes

Eu sou um aleijado
Asas, faltam-me asas
Alma, falta-me a alma

Eu sou um mutilado
Falta-me o sorriso de criança
Estirpado por algum bisturi

Eu ando apoiado em muletas
E tomo quilos de neosaldina
Pra aliviar a dor

Eu vivo como quem perdeu o coração
Ou, pelo menos, seus batimentos mais simples

Como quem faz hemodiálise
De lembranças...

Eu sou um aleijado
Sonhos, faltam-me os sonhos.

Saturday, April 16, 2005

A Torquato Neto

São três da madrugada
E meu coração vazio não vale, nunca valeu, nem
Nunca valerá nada

São três da madrugada, Torquato
E eu choro que nem uma boneca vagabunda,
Implorando um pouco de paz...
Um pouco de gás...

São três da madrugada
E ela nunca tomou nota
Do amor que guardei só pra ela
E que secou feito leite estragado

São três da madrugada, bicho
Eu já andei pra caralho
E tô tão cansado
Que cortaria um braço
Pra me sentir mais leve

São três da madrugada, Torquato
E eu rezo a você
Uma reza louca,
Descabelado, desgrenhado,
Babando sangue pelo canto da boca

São três da madrugada
Pobres de nós, Torquato

Saturday, April 09, 2005

La Vie En Rose

Meu deus, onde foi que deixei minha vida?
Parece ter sumido com meus brinquedos
Através do buraco negro por onde foi minha infância...
Talvez tenha escorrido dos meus olhos,
Rolado pelo meu rosto
E encharcado a fronha,
Junto com lágrimas de raiva da pré-adolescência...
Nas casas dos amigos
Cobertos pela poeira do tempo?

Onde foi que me perdi de mim?
Nos banheiros, desesperado, tentando me recompor
Para retornar à mesa e aos amigos?
Nas pontas atiradas pelas janelas
Dos carros nas estradas?
Nos copos de vodca?
No sexo? Nas drogas? No rock'n'roll?

Quando foi exatamente que minha vida se obscureceu?
Depois de que reunião? Em que aparelho?
Depois de qual beijo?
Em que sessão de psicanálise
Exorcizando amores fracassados?
Em que medo sentido?

Quando, diabos, deixei de existir
Para tornar-me esfinge de mim mesmo
E devorar-me
Autofagicamente?

Saturday, April 02, 2005

Remendos do Dia

Queria devolver tua alma
E fingir que nada de teu ficou em mim
Nem esse cansaço de me saber covarde
Nem essa dor de me fazer algoz

Queria devolver tua alegria
E fugir, que nada de meu ficou em ti
Nem esses olhos que te sabem frágil
Nem essas asas que te cortam a carne

Mas o mundo me chama
E o mal está feito...
E nem mil remendos
Consertariam o dia estilhaçado

Saturday, March 26, 2005

Sobre Poemas e Porres

Eu escrevo poemas
Como quem passa mal

Eu procuro seu rosto
Como quem busca a paz

Eu distorço a verdade
Como quem não a quer

Eu tomo porres homéricos
Como um ato de fé

Eu acredito em mentiras
Eu escrevo poemas

Saturday, March 19, 2005

Muros & Pontes

Muros e pontes criamos
Enquantos esperamos

Muros e pontes grafamos
Enquanto passamos

Muros e pontes...
Estranhas construções!

Estranho que só possa pensá-las
Como lados da mesma moeda
Como partes da mesma espera

Muros e pontes vivemos
Enquanto o dia não vem

Saturday, March 12, 2005

Crepúsculos

Entre o real e o possível,
Plenos de sangue,
Lindos sonhos tivemos

Entre a viagem e a guerra,
Prenhes de sentidos,
Longas metáforas vivemos

Entre o desejo e a boca
Um novo tempo estranho
Agora me paraliza

Entre pálpebras e vigília
Uma alma provisória
Inquieta adormece

Saturday, March 05, 2005

Todas as Horas

Eu te amo assim hesitante
Cauteloso
Como quem devesse um dia odiar

Eu te odeio assim hesitante
Receoso
De que um dia devesse te amar

Eu vivo assim hesitante
Temeroso
De que cada esquina esconda o final

Hesitante...
Como quem devesse viver
O amor, o ódio
E as paixões de todas as horas
Comedidamente

Saturday, February 26, 2005

Daqui

Eu escrevo o meu quintal
Minha curva e incerteza

Eu canto o meu amor
Beijos antiframboesa

Eu traço meu rabisco
Nos espinhos desse muro

Eu grafo e solto o grito
Das costas das troças do mundo

Saturday, February 19, 2005

Concêntricos

Menina, eu odeio acrósticos
E nomes
E tudo aquilo que personalize
O que deve apenas partir do pessoal
E, ainda assim, te amo...

E, no entanto,
Apesar de tanto te amar,
Meu amor por ti não importa
Mais que o amor simplesmente
E nem o teu olhar,
Que tanto me cativa,
É importante em si
Senão pelo que revela
Do gênero humano

E tu és apenas o centro de ti
E eu, apenas o centro de mim
E quanto a escrever poemas
Mais valem os múltiplos olhares
Que possas me emprestar

Saturday, February 12, 2005

Riscos & Possibilidades (Dias Perigosos)

[Parris], like the rest of Salem, never conceived that the children were anything but thankful for being permitted to walk straight, eyes slightly lowered, arms at the sides, and mouths shut until bidden to speak.
(Arthur Miller - The Crucible)
A vida é um risco, menino
E você pode falar o que pensa
Desde que todos concordem
+
Nestes dias perigosos
Não há espaço para a poesia
E a sinceridade deve ficar bem escondida
Atrás de lisonjas e sorrisos
+
Menino, comporte-se
Divergir pra quê?
Decore o script
E depois conversamos
+
Amenidades, por favor
Que a palavra agora
Tem uma estranha função
+
Sim, são dias perigosos
Por mais que se diga o contrário...
+
Mas você pode dizer o que quiser
Desde que não seja o que pensa
Desde que seja mais uma voz
No coro da indiferença
+
Ainda que o silêncio pese uma tonelada...

Saturday, February 05, 2005

Danças

Musicais da Broadway
me dão enjôos
Os passos que amo
não são marcados
nem precisam de coro
ao fundo

Os passos que amo
são movimentos espontâneos
de uma dança epiléptica
livre e insegura

Bonecos de mamulengo
que balançam
e tantas vezes caem
Equilibristas bêbados
de uma vida
sem ordem unida

Beijos, tropeços e quedas
Encontros
de corpos indisciplinados
que espontaneamente
se fundem
e movem-se atabalhoados
emprestando beleza
a estranhos espasmos
descoreografados

Saturday, January 29, 2005

Canção Desconfiada

Desconfie de certezas
Nada é
Nem se parece
E tudo que é sórdido
Se esconde no ar

Desconfie de fronteiras
A areia não termina
Onde começa a água
E eu não termino
Onde você começa
Se você me faz

E desconfie de quem ama
Não porque não ame
Mas porque amar
É perigosamente
Diluir as bordas
De certezas e fronteiras

Mas sobretudo desconfie de poetas desconfiados
Que desconfiam de tudo
Até mesmo de versinhos
Romanticamente sorridentes
E de poemas incertos
Que amam desfronteiras

Saturday, January 22, 2005

Múltiplos

Quero-te
Simples
Como quem ama

Quero-te
Múltipla
Como és
E estilhaçado
Como sou

Quero-te
Inteira
Pela metade
E com a melhor face
Que te dou

Quero te dar
Todos meus amores
Quero provar
Todos teus sabores

Exclusivos somos
Do mundo que somos
E dos outros
Que nos fazem
Seus construtores

Quero-te leve
E dou-me mosaico
Do mundo que somos

Do mundo que somos
Somos daqueles
Que assim desejaram
Nos reinventar

E conjugamos
De múltiplas formas
Novas e leves
Uma estranha essência
Sempre um tanto avessa
A se cristalizar

Saturday, January 15, 2005

Poema Incerto

Certos poemas
São polígonos
Outros
Linhas poligonais
Abertas
Certos poemas...

Em certos poemas
Encerro o óbvio enigma

Incertos poemas
Tão óbvios
Quanto a alma
Do poeta
Tão enigmáticos
Quanto
Seus segredos...

O resto é prosa

Saturday, January 08, 2005

Inventário em Preto e Branco

Tenho um pequeno caderno vermelho
Onde guardo pequenas gotas do que fui

Trago um olhar azul de cachorro
Triste e um tanto melancólico
Que às vezes vira um sorriso castanho de filhote

Possuo quartos brancos numerados
Onde és bem vinda a qualquer hora

E gavetas grafite bem trancadas
Em que acumulo dores incolores
E cultivo almas transparentes

Saturday, January 01, 2005

Poesia Residual

Não consigo escrever poemas
Sem ser exagerado
A hipérbole é minha terra
A paixão, meu arado

Me surpreendo, de repente,
Compondo versos rimados
Como quem respira sofregamente
A alma do inusitado

Eu escrevo como quem vive
Eu vivo como quem morre


(Desejo a todos os amigos do Poesia Residual um feliz 2005 e peço que mandem seus melhores pensamentos a Luiz Otávio Lopes, amigo de infância e irmão de alma e poesia que sofreu um derrame neste Natal. Que sejamos também solidários ao povo asiático, que não merecia a tragédia que está vivendo neste momento.)